Escola de Escrita

Traduções de filmes muito loucas!

“Nossa, parabéns. A tradução do título deste filme ficou ótima.Tô impressionado.”

Não basta traduzir, tem que adaptar. Quem convive com os dilemas diários do universo da tradução sabe que os desafios de um profissional da área vão muito além do pleno domínio da língua a ser convertida para o português. O buraco é bem, bem mais embaixo.

É importante entender: traduzir não é simplesmente transcrever integralmente o que foi dito em outro idioma. Há uma série de nuances interpretativas que, se não estudadas e adaptadas corretamente, podem fazer o conteúdo do texto original ser convertido de maneira equivocada.

“Esse filme parece tão fofinho… Vamos ao cinema, Amor?”

Um exemplo cotidiano de como tradutores têm o poder de alterar o sentido de uma obra pro bem ou pro mal são títulos de filmes. Nem sempre os responsáveis optam por traduções literais dos nomes originais, escolhendo adaptações sutis (???) que deixam os títulos mais atrativos/compreensíveis para o público local.

Querem exemplos? Vamos ̶n̶o̶s̶ ̶d̶i̶v̶e̶r̶t̶i̶r̶ estudar alguns casos icônicos:

Título original: Airplane! (Avião!)
No Brasil:
Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu

Esta comédia é um marco do gênero nonsense e não faz muita questão de ser sutil nas piadas que apresenta ao longo do filme. No entanto, o título original do longa é bem mais contido do que aquele usado por aqui. E, cá entre nós, o nome brasileiro talvez tenha mais a ver com o espírito da obra. Aliás, outro clássico dos mesmos diretores também ganhou um nome exótico no Brasil: o original “The Naked Gun” virou “Corra Que a Polícia Vem Aí”.

Título original: The Godfather (O Padrinho)
No Brasil:
O Poderoso Chefão

Tá achando que só filme de humor tem nome diferente do original por aqui? ̶A̶c̶h̶o̶u̶ ̶e̶r̶r̶a̶d̶o̶,̶ ̶o̶t̶á̶r̶i̶o̶! Aquele considerado por muitos o melhor longa da história também ganhou uma adaptação local que gera debates até hoje. Apesar de não estar desconexo do sentido do filme, a gente há de concordar que a tradução literal “O Padrinho” faria mais sentido. Não, “O Poderoso Chefão” não é ruim, mas, pra que mexer no que já é bom, né?

Título original: My Girl (Minha Garota)
No Brasil: Meu Primeiro Amor

“Ah, Dona Esc.: neste caso nem foi uma adaptação ruim. ‘Meu Primeiro Amor’ tem tudo a ver com o filme”. Sim, a gente concorda. O problema é que ele teve uma continuação com (olha o spoiler) um outro interesse amoroso da protagonista. Aí nós tivemos o famigerado “Meu Primeiro Amor – Parte 2” em vez de um “Meu Segundo Amor”.

Pois é, às vezes é melhor não inventar.

Título original: Blue Valentine (VALENTIM AZUL)
No Brasil: Namorados para Sempre

Taí um caso interessante: o título original deixa meio claro que o tom do filme não será lá muito, digamos, “otimista” para falar do relacionamento dos protagonistas. Talvez pensando que o público local não ia se interessar tanto por um filme com esta pegada, a distribuidora brasileira resolveu colocar um nome com uma pegada de “romance fofinho” e lançou o longa às vésperas do Dia dos Namorados. Resultado: o cineminha romântico de muitos casais apaixonados terminou em salas cheias de gente aos prantos e DRs na saída da sessão.

Título original: Rat Race (Corrida dos Ratos)
No Brasil: Tá Todo Mundo Louco! – Uma Corrida por Milhõe$

Comédias tradicionalmente ganham títulos mais “espalhafatosos” aqui no Brasil. Mas, olha, aqui o pessoal se superou. O título original em inglês serve como gíria para perseguições sem sentido, exageradas, algo que o nome em português não faz muita questão de ressaltar. Sutileza mandou um abraço. Ainda bem!

Título original: Inside Out (Do Avesso)
Título no Brasil: Divertida Mente

Há tantos casos de adaptações de títulos desastrosas que, quando surge um exemplo de trabalho bem feito, a gente precisa exaltar. A animação da Pixar, que arrebatou o coração de crianças e adultos de todos os cantos do mundo (Bing Bong, eu te amo!), ganhou um título bem interessante em português. “Divertida Mente”, além do trocadilho, traduz o espírito da obra de forma mais eficiente que o original. Ponto para os tradutores.

Título original: Nowhere Boy (Garoto de Lugar Nenhum)
No Brasil: O Garoto de Liverpool

O filme é uma cinebiografia de John Lennon, aquele moço famosinho que tocou nos Beatles. O título original explicita o espírito livre de seu protagonista e como a fama o transformou em um “cidadão do mundo”. Mas ninguém contava com o senso de ordem dos produtores brasileiros. Eles não só afirmaram que ele pertencia a um lugar, contrariando o lirismo do título original, como ainda especificaram a cidade. Parabéns aos envolvidos.

Título original: Lost in Translation (Perdido na Tradução)
No Brasil: Encontros e Desencontros

A piada é bem óbvia, mas aqui o pessoal literalmente se perdeu na tradução. O título original sugere de forma sutil e eficiente parte da confusão dos protagonistas diante do seu isolamento em uma cultura que não dominam. Acabou adaptado de uma forma beeeem genérica por aqui. “Encontros e Desencontros” não parece nome comédia romântica da Sessão da Tarde? Pois é.


Viram só como até a tradução de um título de filme pode ser uma tarefa potencialmente complexa? É claro que, nos casos citados, nem sempre a culpa é do tradutor envolvido (alô, distribuidoras). Ainda assim, ter um bom domínio da técnica da tradução pode te fazer achar uma boa alternativa na hora de traduzir/adaptar/localizar o título de qualquer obra, seja ela cinematográfica, teatral, literária etc.

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Assistam “Um Professor do Barulho” na Esc. mais próxima de você.

As inscrições estão abertas. Venha curtir altas aventuras nesta Escola muito louca.

Oficina de tradução POCKET

📅 Dias e horários: sexta-feira, 9 de novembro, das 19h às 22h; sábado, 10 de novembro, das 9h às 19h; domingo, 11 de novembro, das 9h às 13h.
⏰ Duração do curso: 16 horas.
📍 Endereço da Escola: na Alameda Augusto Stelfelld, 1452, Bigorrilho.
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